Piracicaba, 02 – Uma nova e intensa onda de frio chegou ao Brasil na última quinta-feira (29/07), causando recordes de baixas temperaturas no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além de geadas e até neve em algumas cidades das serras gaúcha e catarinense. Assim, novamente, diversas regiões produtoras de frutas e hortaliças foram afetadas pelo clima, registrando perdas e prejuízos. Confira um resumo por produto:
ALFACE: As geadas nas roças paulistas de alface (Mogi das Cruzes e Ibiúna) geraram novas perdas nas lavouras, as quais já registravam pouca disponibilidade de produtos, por atrasos no ciclo (devido às baixas temperaturas). Ainda não se sabe a amplitude dos danos, porém, segundo produtores, o fenômeno recente foi mais intenso que o da semana anterior em algumas localidades. Por conta disso, a oferta é restrita e os preços de algumas variedades tiveram altos reajustes para a época de inverno. Além da possível falta de mercadoria, devido aos danos causados pelas geadas, produtores estão adiando o plantio para evitar problemas futuros na produção. Desta forma, agosto pode ser marcado por baixa disponibilidade de folhosas e, consequentemente, maiores preços, levando-se em consideração o intervalo no cultivo.
UVA: As fortes geadas das últimas semanas, principalmente as que ocorreram na madrugada dos dias 29 e 30/07, estão preocupando produtores de uva do Sul e do Sudeste do Brasil. Marialva (PR) foi uma das cidades mais prejudicadas, segundo colaboradores consultados pelo Hortifruti/Cepea, onde as áreas podadas para a safra do final do ano que já haviam brotado, terão necessidade de repoda. Ainda que esta constatação já viesse da geada anterior, produtores comentam que a mais recente foi generalizada, preocupando quanto à produtividade da temporada nos parreirais cujas brotações já estavam bem desenvolvidas – uma vez que parte das reservas de energia das videiras já foi utilizada. Em São Miguel Arcanjo e Pilar do Sul (SP), o cenário também foi negativo. Nos últimos anos, viticultores têm podado mais cedo com a intenção de colher em dezembro e aproveitar a alta demanda nas festividades de fim de ano. Contudo, as temperaturas baixas afetaram os parreirais, havendo também necessidade de repoda. Assim, a safra deve ter início apenas em meados de janeiro/22. Nestas regiões, foram feitos manejos a fim de amenizar os prejuízos, tais como fogueiras e irrigação das copas – os quais foram insuficientes, dada a intensidade do frio. Em Louveira/Indaiatuba e Porto Feliz (SP), por sua vez, os problemas não foram graves. Com as expectativas do frio intenso em julho, produtores atrasaram as podas em alguns locais para enfrentar o frio intenso com as videiras ainda em estado de dormência. Assim, espera-se que no final do ano a oferta de uvas do Sul e do Sudeste fique mais restrita.
MANGA: Segundo produtores consultados pelo Hortifruti/Cepea, a nova geada que atingiu Monte Alto/Taquaritinga (SP) foi ainda maior do que as duas anteriores. Assim, se eleva a preocupação quanto à produção da temporada 2021/22 do estado de São Paulo, cuja colheita normalmente se estende de outubro a fevereiro. Os danos não foram dimensionados, mas o receio é grande, já que os impactos se estenderam, também, para as áreas mais altas. Assim, tudo indica que a oferta, durante o período de colheita de SP, deva ser inferior à normal para a época. Em algumas áreas, foram utilizadas estratégias para minimizar os prejuízos, como a queima de serragem em tambores para elevar a temperatura nos pomares e evitar o congelamento das flores.
MAÇÃ: O frio ficou ainda mais intenso nas regiões produtoras de maçã do Sul do País e, de acordo com agentes consultados pelo Hortifruti/Cepea, apesar de o acúmulo de horas de frio ser essencial no período de dormência, o clima recente afetou algumas atividades de campo. Agora, as podas, que têm como finalidade a abertura e o arqueamento das macieiras para a safra 2021/22, deveriam estar sendo realizadas. Porém, o ocorrido fez com que fossem postergadas por um tempo – mas nada que preocupe, por enquanto.
BANANA: A chegada de uma nova massa de ar polar intensificou o frio no Sul e no Sudeste na semana passada (26 a 30/07), afetando a produção de banana, sobretudo de nanica. Segundo produtores consultados pelo Hortifruti/Cepea, essa variedade possui menor tolerância às baixas temperaturas e, por isso, foi a mais impactada. No Norte de Santa Catarina e no Vale do Ribeira (SP), por exemplo, temperaturas abaixo de zero foram registradas e geadas voltaram a ocorrer, afetando a qualidade da fruta (escurecimento dos cachos) e a produção (ressecamento das plantas). Em ambas regiões, os danos mais severos têm sido observados em áreas de várzea e baixada, onde o ar frio se acumula por mais tempo. Este cenário já está refletindo nos preços da nanica. Quanto à prata, o clima mais frio segurou a maturação e controlou a oferta em âmbito nacional. Vale destacar, porém, que, diferentemente da nanica, o frio ainda não afetou muito a qualidade da variedade, pois sua produção se concentra no semiárido – exceção foi observada apenas em Delfinópolis (MG), onde geadas impactaram significativamente a produção local.
BATATA: Ainda não se tem dimensão exata das perdas nas regiões produtoras em função das geadas na semana de 19 a 23/07, mas colaboradores consultados pelo Hortifruti/Cepea já se arriscam a algumas estimativas. Na região de Perdizes (MG), onde boa parte da produção do Cerrado Mineiro está sendo colhida nesta época do ano, estimam perdas em torno de 10% a 15% do total das lavouras em desenvolvimento, entre as áreas totalmente perdidas e aquelas menos afetadas. Nas regiões do Sudoeste Paulista, Vargem Grande do Sul (SP) e Sul de Minas Gerais, as perdas se aproximam de 30%. Nas três praças, as lavouras mais prejudicadas estão com 50 a 60 dias do ciclo, sendo que as mais adiantadas terão batatas de menor calibre. Quanto às geadas ocorridas nas praças mineiras e paulistas entre quinta e sexta-feira (29 e 30/07), os danos ainda não foram dimensionados, mas produtores relataram prejuízos à produção, sobretudo nas áreas em que as geadas ocorreram nas duas ocasiões.
TOMATE: Na região de Mogi Guaçu (SP), a estimativa é que cerca de 3,5 milhões de pés tenham sido afetados nas geadas de 18 a 21/07. Para as áreas atingidas, metade pode ter registrado perda total, enquanto, nas demais, os danos devem ser parciais, com perda de produtividade estimada entre 30% e 50%. Os prejuízos principais foram na parte superior da planta, que acabou congelando, com queimadura dos tomates ponteiros (a chamada perda imediata). Boa parte das áreas do meio e baixeiro das plantas não foi afetada significativamente, e por isso, em lavouras mais novas, a produção ainda deve seguir positiva, porém limitada frente aos últimos meses, principalmente julho, quando as médias de produtividade chegaram em 475 cxs/mil pés. A região de Ribeirão Preto, embora não seja um grande polo de produção de tomate de mesa, estimativa que as geadas tenham ocorrido em pelo menos 500 mil pés, com danos semelhantes aos de Mogi Guaçu (SP). Quanto à onda de frio mais recente, novas geadas atingiram as lavouras paulistas na madrugada de sexta-feira (30) – mas a boa notícia é que esta frente fria polar já estava prevista e produtores de Sumaré (SP) e Mogi Guaçu (SP) conseguiram tomar medidas para minimizar os impactos. Em Sumaré, com áreas recém-transplantadas a campo, produtores optaram pelo uso de pratos de isopor para cobrir as mudas. Em Mogi, nas áreas já desenvolvidas, a alternativa mais utilizada foi a adubação foliar no dia anterior à geada, com o intuito de diminuir a temperatura de congelamento das células e fornecer vigor adicional para que a planta conseguisse suportar os danos.
O QUE ESPERAR PARA AGOSTO? – Além das ondas recentes (aqui e aqui), agosto deve continuar registrando baixas temperaturas em quase todo o País, com a passagem de mais três frentes frias. De acordo com a Climatempo, uma está prevista para esta quinta-feira (05/08), outra para o início da segunda quinzena e a última, para o fim deste mês, sendo a primeira marcada por chuva e a segunda por massa de ar frio – a qual pode causar geadas no Sul e em alguns locais do Sudeste e Centro-Oeste, mas com menos intensidade em relação às de junho/julho. Para o Norte de Minas Gerais e grande parte do Nordeste, por outro lado, as previsões são de temperaturas acima da média, também conforme a Climatempo.
Fonte: hfbrasil.org.br e Climatempo