Piracicaba, 13 – Temos que pontuar duas vezes o clima no setor de frutas e hortaliças, de tão importante que ele é. O comportamento climático é muito heterogêneo: por exemplo, em algumas situações, a seca é muito benéfica, mas, em outras, é ruim. Em 2024, apesar dos extremos climáticos que enfrentamos, já se tinha essa previsão de estarmos ou não em La Niña, diferente de anos anteriores. O fenômeno está atuando hoje no Brasil, mas é de fraca intensidade e de curta duração: começou no final de 2024 e já deve terminar daqui a dois meses. Mas as temperaturas estão o inverso, ou seja, acima da média – as quais, inclusive, estão historicamente maiores há um ano e meio.
Saímos de um El Niño forte no começo do ano passado. Já em meados abril de 2024, entramos em neutralidade. No entanto, as temperaturas continuaram bem elevadas nos meses seguintes – vale lembrar que, em períodos de La Niña, as temperaturas costumam ficar abaixo da média. Então, para as lavouras de alta tecnologia, irrigadas e em condições controladas, esse cenário é positivo. É como uma estufa a céu aberto.
Em 2024, tivemos não só calor recorde, como também incêndios no interior de São Paulo, enchentes no Rio Grande do Sul, seca prolongada em alguns períodos... E devemos continuar lutando com as altas temperaturas. E isso não é só para os hortifrútis, mas também para grandes culturas, pois o Brasil é um país tropical e o calor extremo deprime a produtividade, pois a planta sente um certo estresse. Por conta disso, grandes culturas e a hortifruticultura, sobretudo as lavouras não irrigadas, estão sofrendo por conta dos termômetros altos. De qualquer forma, esse cenário, de forma geral, não é favorável para nenhuma cultura, especialmente as frutas e hortaliças. E é por esse cenário que podemos dizer que o La Niña que estamos vivenciando não é clássica.
Temperaturas têm subido nos últimos 40 anos em todo o planeta
Precisamos deixar claro para o produtor é que a ciência. O termômetro não tem partido político, ele é um equipamento que registra as temperaturas, que têm subido nos últimos 40 anos em todas as regiões do mundo. E ela sobe por conta de um processo que acontece na atmosfera de um tipo de energia chamado radiação de onda longa que a Terra emite para o espaço sideral, e essa energia não consegue mais sair. Ela fica retida por conta de alguns gases, os chamados gases de efeito estufa. É um processo que a humanidade depende disso para manter a economia funcionando.
Em termos climáticos, é como se a gente colocasse mais combustível para esse motor funcionar chamado “atmosfera”, e esse motor funciona com mais intensidade. Então, quando é para subir a temperatura, a temperatura sobe mais. Quando é para chover, chove mais. Quando é para esfriar, esfria mais. O aumento do gás carbônico (CO2) é um amigo das plantas. Então, enquanto a temperatura tem esse efeito, vamos dizer, o CO2 compensa ajudando na fotossíntese das culturas, de forma geral, o que ameniza um pouco a nossa preocupação, pois melhora a capacidade de controlar a perda da água da planta.
Tendência climática para fevereiro a abril
Não conseguimos dizer, por enquanto, como será o comportamento do clima até o final de 2025. Mas considerando os próximos três meses (fevereiro a abril), talvez fevereiro seja o mês um pouco mais preocupante, especialmente para aqueles produtores que dependem de água, pois as chuvas devem ficar abaixo da média em boa parte do Brasil, com exceção do extremo norte do País, mas o Centro-Oeste, Sudeste e Sul continuam com uma condição mais desfavorável. Em março e abril, o cenário já se reverte novamente, com mais chuvas, melhorando um pouco a situação de baixa umidade. Já as culturas que não precisam depender tanto de água no curto prazo, esse cenário é um pouco mais favorável, mas, de qualquer forma, as altas temperaturas devem prevalecer, pelo menos, até abril.
Por outro lado, a agricultura será resiliente se a gente tiver informação, sobretudo das empresas privadas, das universidades, institutos de pesquisa públicos e privados que tão fazendo pesquisas e as quais nos ajudam a nos preparar para trafegar no caminho dos extremos climáticos. Em 2025, podemos enfrentar novos eventos do clima, talvez não tão fortes como em 2024, mas é um cenário irreversível. Se o produtor tiver capital para fazer investimento em tecnologias que, ao menos, driblem os efeitos do clima, essa é a recomendação.
Fábio Marin é professor da Esalq/USP e especialista em Agrometeorologia.
Marin também tem um canal no YouTube, com produção da TV USP de Piracicaba, onde fala sobre previsões do clima. Para conferir o canal, acesse: www.youtube.com/@proffabiomarin1038