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Outubro 3, 2018
ENTREVISTA: "Não podemos votar com a passionalidade de um torcedor de futebol", diz professor da Esalq/USP
Prof. Sergio De Zen avalia pautas que podem favorecer a agricultura brasileira

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Piracicaba, 03 – A convite da HF Brasil, o professor da Esalq/USP Sergio De Zen, pesquisador do Cepea, faz uma avaliação sobre quais as pautas mais importantes que os candidatos ao legislativo e executivo deveriam ter para favorecer a agricultura brasileira.

HF Brasil – Qual posicionamento de um candidato poderia torná-lo uma boa opção de voto para o agricultor?
Sergio De Zen: O primeiro passo é o agricultor saber o quanto esse candidato conhece da realidade do mundo agro. O segundo passo é (sendo um conhecedor) avaliar quais os pontos de vista desse candidato. Ele é um candidato que acredita no mercado ou na intervenção do estado? O perigo que sempre existe no agricultor é ele votar em um candidato que conhece o agro, mas cujas ideias não são compatíveis com as do agricultor em relação ao setor. Isso é normal? É.

HF Brasil – Quais pautas os candidatos deveriam apoiar para favorecer a agricultura brasileira?
De Zen: O produtor precisa olhar um candidato que atenda às necessidades do estado brasileiro enquanto agente fornecedor de tecnologia e regulador de mercado e que garanta a competitividade  do País perante os desafios sanitários, desvios tecnológicos. É importante uma pauta de regulação fundiária, ambiental, e que garanta estabilidade jurídica. Uma pauta econômica que garanta à agricultura brasileira uma competitividade no sentido de que ela não tenha oneração fiscal em excesso, que ela tenha abertura para novos mercados e na estabilidade de renda dos produtores. Tudo isso faz parte de um pacote maior. Não existe uma pauta só.

HF Brasil – Dentre todas as pautas citadas, quais são as prioritárias?
De Zen: O que é essencial, em termos de projetos, para que as coisas mudem? Mais mecanismos de mercado, para que a gente tenha uma previsibilidade de preço, que garanta estabilidade de investimento na agricultura. Paralelo a isso, um ponto que eu acho fundamental é o investimento em tecnologia. Muitos investimentos precisam do apoio do governo, não pode deixar somente na mão de investimentos privados. Temos que nos pautar em uma análise de benefício e custo, não só de retorno financeiro ou de riqueza daquele momento, mas também o que está gerando de benefício para a sociedade como um todo. Ou seja: se eu crio tecnologia, essa tecnologia baixa o custo de produção, aumenta a produtividade dos insumos, automaticamente aumenta oferta; se aumenta oferta eu baixo o preço médio; quando eu baixo o preço da commodity, fica mais acessível para o consumidor. Exemplo clássico: a carne de frango. O frango, nos anos 1950/60, era uma comida de fim de semana, porque era caro, demorava seis meses para ficar pronto. À medida em que hoje ele é uma proteína que fica pronta em 42 dias e a conversão de grãos em proteínas é muito boa, o custo para o consumidor, o preço final de venda dele, caiu muito, sem deixar que o produtor perdesse o interesse em produzir. Isso porque ele gasta menos em produzir, devido à maior eficiência produtiva que tem. Então, todas as atividades agrícolas que a gente tem – e o Brasil tem sido muito feliz nisso –, têm aumentado a produtividade dos fatores de produção. É um dos setores da economia brasileira que, durante todos os últimos anos, tem continuado a ganhar em produtividade e, consequentemente, tem aumentado a eficiência produtiva e a eficiência da atividade como um todo.

HF Brasil – O senhor tem mais alguma sugestão para os hortifruticultores?
De Zen: É preciso uma profunda reflexão. Essa é a chance. O ponto central, portanto, é você conhecer muito bem a história do candidato e não votar com a passionalidade de um torcedor de futebol. Isso é irracional, não tem uma lógica. Cada um deve escolher o seu candidato baseado na história dele e nas propostas dele. Como a sociedade brasileira é multifacetada, é uma sociedade muito heterogênea em pensamento, em atitude, não tem como governar com apenas um ponto de vista... Você tem que ceder em muitos pontos de vista, seja quem for o presidente. Isso se dá pela nossa Constituição, em que o presidente aqui, no Brasil, depende da maioria do congresso para se manter. O parlamento é resultado da sociedade, foi ela quem votou nele. Não dá para desassociar o parlamento da sociedade: ele reflete mais puramente seu povo. E o senado, que já é a etapa final de uma discussão, ele tem um poder enorme, também. Então, é muito importante a figura do deputado e muito importante a figura do senador. Não podemos só centrar no voto do presidente e esquecer do resto.

Fonte: hfbrasil.org.br

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